quarta-feira, 11 de agosto de 2010

COMPLEXOS DE INFERIORIDADE


Os portugueses têm um profundo complexo de inferioridade. Assumem, sem razão, que tudo o que é nacional é de fraca qualidade. Esta falta de amor próprio despreza os êxitos e valoriza o que corre menos bem, dando armas aos adversários. Calçado fabricado em Portugal é vendido com marca italiana por dez vezes mais; malas feitas para a Vuiton, com etiqueta nacional valem 100 euros, com a marca da multinacional vendem-se por 1000. É, por isso, necessário acrescentar valor ao nosso ego.
Mas valor real, não vaidades que soçobram sob o mais pequeno vendaval, como aconteceu com o recente campeonato do mundo de futebol. "Os melhores do Mundo" não passaram do primeiro degrau. A ressaca foi terrível!
Vem tudo isto a propósito de uma notícia publicada nos jornais: "97% dos juízes portugueses tiveram Bom ou Muito Bom...e não há medíocres". A gargalhada foi geral. Ecoa ainda pelo País fora apesar da canícula que incendeia as florestas de pinheiros e eucaliptos.
Qualquer cidadão, por mais inculto que seja, ri-se desta avaliação . Não é com mentiras destas que ultrapassamos o triste fado da falta de amor próprio.
Como é possível notações tão excepcionais e a justiça portuguesa ser a pior da Europa?
Como é possível que os professores portugueses queiram todos subir ao topo da carreira, ser avaliados como Muito Bons e termos o pior ensino da Europa?
Esta forma de estar na vida faz-me lembrar os novos-ricos que compram títulos e aristocracias aos nobres falidos e depois exibem árvores genealógicas, convencidos da própria mentira.
De facto, com o 25 de Abril assistiu-se a uma corrida aos títulos. Afinal, o que qualquer pobre queria era ser doutor e engenheiro.
Os regentes agrícolas passaram a ser engenheiros.
Os cursos das plebeias Escolas Comerciais e Industriais ganharam o estatuto de Ensino Superior.
As contínuas e empregadas de limpeza são agora técnicas... de qualquer coisa, não importa o quê, mas técnicas.
E a verdade é que todos estes doutores e engenheiros, cheios de mérito, conseguiram, em 30 anos de democracia, conduzir Portugal a uma das suas piores crises económicas e sociais.
Vaidades, tudo vaidades.
Não é com fantasias desta natureza que "puxamos o país para cima". Isso só será possível com disciplina, rigor, exigência, qualidade do ensino, qualidade da justiça.
Habituados que estamos ao facilitismo soçobramos ao mais pequeno contratempo, num coro de lamentações que começa nos partidos, passa pelos sindicatos e acaba nos cidadãos. Não tarda, estamos a pedir ao Estado que volte a tomar conta de nós. Como o fez Salazar e Estaline.
E, por favor, não voltem a comparar-nos com a Filândia em matéria de chumbos. Como escreveu no seu blogue, "O Mundo da Verdade", Miguel Carvalho, um país que promove um Campeonato Mundial de Sauna, com as consequências que se conhecem, não abona muito à sua inteligência. O facto de fazer bons telemóveis e bom papel, não significa muito. No circo, os cães também sabem andar de bicicleta.
É tempo de encontrar o nosso próprio caminho sem nos compararmos, permanentemente, com os outros. Revela espírito de colonizado.
(AOC)

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