Isto já passou na net, mas como se trata de um assunto pertinente, jamais é demais ler e aplicar uns tantos bons costumes e ensinamentos.
Até serve mesmo para quem não é pai, PARA CONSCIENCIALIZAR.
*O regresso dos pais autoritários*
*Os pais têm de recuperar a autoridade perdida e deixarem de querer agradar
aos filhos, ou o mundo estará perdido, afirma um dos mais famosos pediatras
do mundo. Fomos saber porquê.*
Catarina Fonseca/ACTIVA 10 Fev. 2010
Confesso que ia um bocado amedrontada. Afinal, ia entrevistar um dos homens
responsáveis por um dos maiores escândalos educativos das últimas décadas, o
homem que defendera a urgência do regresso ao poder dos pais contra os
todo-poderosos filhos.
Acusado de tudo, de fascista para baixo, o pediatra líbio-francês Aldo
Naouri diz que os pais se demitiram do seu papel de educadores e em vez
disso se dedicam a satisfazer a criança, com o único desejo de se fazerem
amar. Diz que confundimos frustração com privação. Diz que transmitimos à
criança que não só pode ter tudo como tem direito a tudo, içando-a ao topo
do edifício familiar, onde ela nunca esteve e onde nunca deveria estar. Diz
que um filho hoje não é criado para se tornar ele próprio, mas para
gratificar e servir o narcisismo dos pais. Diz que estamos perante uma
epidemia que encoraja os pais a seduzirem as crianças, tornando-as assim em
seres obsessivos, inseguros, amorfos e emocionalmente ineptos, que não sabem
gerir as suas pulsões e são incapazes de encontrar o seu lugar no mundo.
Em resumo, esperava alguém mais parecido com o Deus do Velho Testamento, que
me recebesse com raios e coriscos, ou pelo menos uma praga de gafanhotos. Em
vez disso, recebeu-me com um sorriso só equivalente ao sol de Lisboa,
agarrou-me na mão, perguntou-me por que é que não tinha filhos e
assegurou-me que os homens são todos uns egoístas. "Portanto, madame, é só
escolher um! São todos iguais!"
Por entre gargalhadas, falou-se de coisas muito sérias, como aquilo que
andamos a fazer às crianças. Ora leiam.
*- Então, nada de democracia para as crianças?*
- Não. É fundamental que estejam numa relação vertical: os pais em cima, as
crianças em baixo. Porque há uma diferença entre educar e criar. Criar é
dar-lhe os cuidados básicos, dar-lhe banho, alimentá-lo, etc. É como criar
galinhas. Educar é haver qualquer coisa que não existe e que é preciso
formar. Por isso a criança não está nunca ao mesmo nível dos pais, não pode
haver uma relação horizontal. Se quiser compreender o que se passa na cabeça
de uma criança numa relação horizontal, imagine o seguinte: você está num
avião, e o comandante vem sentar-se ao seu lado. Você pergunta, Mas quem é
que está a guiar o avião? E ele diz, 'Ah, é um passageiro da primeira fila
que eu pus no meu lugar.' A criança tem necessidade de alguém acima dela.
*- As mães não se escandalizam com a mudança de hábitos que lhes aconselha?*
- Nada disso. As mães estão petrificadas na sua angústia e precisam de se
libertar. Eu digo, 'mas não vale a pena angustiarem-se dessa maneira, ser
mãe é muito mais simples do que vocês pensam'. Digo-lhes que não vale a pena
viverem preocupadas porque a criança não come, não dorme, ou vai ter ciúmes
do irmão. Dou-lhes conselhos básicos e fáceis de seguir e tento fazer com
que simplifiquem a máximo as suas vidas. O que eu quero é que a criança seja
para os pais uma fonte de prazer e felicidade, e não um foco de sofrimento e
angústia, e para que isso aconteça, os pais têm de estar descontraídos.
*- As nossas avós não viviam nessa angústia...*
- Pois não. Mas viviam num mundo em que havia três tipos de ordem: Deus, Rei
e pai. Esse tipo de ordem fazia com que existisse qualquer coisa que as
transcendia. Hoje todo o tipo de transcendência desapareceu, e quem ficou no
lugar de Deus? A criança. Às mães que põem o filho nesse altar, eu
simplifico a tarefa: digo - Não se cansem dessa maneira. Não se preocupem
assim. Ponham-se a vocês próprias em primeiro lugar. Claro que não é uma
coisa que elas estejam habituadas a fazer, ou sequer a ouvir, mas não é por
isso que não podemos dizer-lhes, e não é por isso que elas vão deixar de ser
capazes de o fazer. Acredito que vão ser capazes, porque é urgente: a bem
das crianças, e a bem delas próprias. É preciso fazer as coisas de maneira
tranquila, porque a mãe perfeita não existe, o pai perfeito não existe, a
criança perfeita não existe.
*- Mas as mães hoje têm uma vida tão difícil, é normal que se
culpabilizem...*
- Não é por trabalharem fora de casa que têm de se sentir culpadas.
Peço às mães: lembrem-se do vosso primeiro amor. Quando não o viam durante
três dias, morriam de saudades. Mas quando o voltavam a ver, assim que
batiam os olhos nele era como se nunca se tivessem separado. Com as
crianças, é exactamente igual. Quando tornam a encontrar a mãe, é como se
ela nunca tivesse partido.
*- Diz que os pais esqueceram o seu papel de educadores porque querem ser
amados pelas crianças. Por que é que isto acontece?*
- Como todas as crianças, tiveram conflitos com os pais. E como todas as
crianças, amam-nos mas guardaram muitos ressentimentos. E não querem que os
seus filhos tenham esse tipo de ressentimento em relação a eles. E pensam
que a melhor maneira de o fazer é seduzir a criança para que ela o ame. O
que é um enorme erro. Porque nesse momento, a relação vertical inverte-se. A
hierarquia fica de pernas para o ar, e quando isso acontece, destruímos a
crianças.
*- O problema é que as pessoas confundem autoridade com violência.
Autoridade é fazer-se obedecer, não é dar uma palmada, que o senhor aliás *
*desaprova.*
- Completamente! Não aprovo palmadas de que género for, nem na mão nem no
rabo. Ter autoridade não é agredir a criança. Ter autoridade é dizer: 'Quero
isto', e esperar ser obedecido. Quero que faças isto porque eu disse, e
pronto. Autoridade é só isto, é assumir o seu dever. Não vale a pena ser
violento, aliás porque a criança sente a autoridade. É quando o pai ou a mãe
não está seguro do seu poder que a criança tenta ir mais longe. Quando há
uma decisão que é assumida pelos pais, ela cumpre-a.
*- Uma terapeuta de casal dizia que as pessoas hoje não têm falta de
erotismo, dirigem-no é todo para as crianças...*
- Sem dúvida. E é isso que é urgente mudar. O slogan 'a criança acima de
tudo' deve ser substituído por 'o casal acima de tudo'. A saúde física e
psíquica das crianças fabrica-se na cama dos pais. Por que isso não acontece
é que há tantos divórcios, e depois a vida torna-se muito mais complicada
para a mãe, o pai e a criança. Se elas decidem privilegiar a relação de
casal, estão a proteger a criança.
*- Educou os seus filhos da forma que defende?*
- Sim sim, eu eduquei os meus três filhos tranquilamente. A autoridade
significa serenidade, não violência. Ainda hoje, que eles já são mais do que
adultos, nos reunimos às vezes para jantar. E no outro dia, falámos sobre as
viagens de carro que costumávamos fazer - sempre viajei muito com eles.
Quando se portavam mal, eu virava-me para trás e dizia: - Olhem que eu paro
o carro e deixo-vos a todos aqui na auto-estrada! - Só há pouco tempo é que
percebi que eles achavam que eu estava a falar a sério e que seria capaz de
os abandonar na estrada! (ri). Tal é a força da autoridade. Mas isso não tem
importância, o importante é que funcionava! (ri)
*- Diz que o pai tem de ser egoísta mas também diz que uma das tragédias do
mundo moderno é a ausência do pai... Qual é então o papel do pai, para lá de
ser egoísta?*
- Tem duas funções: a primeira é a de possibilitar à mãe o exercício da sua
feminilidade. A segunda é a de se oferecer ao filho ou filha como um escudo
contra a invasão da mãe. Porque de outra maneira, a mãe vai tecer à volta do
seu filho um útero virtual, extensível até ao infinito. O pai não está
presente como a mãe, mas é preciso que esteja presente.
*- Mas hoje exige-se aos pais que façam uma data de coisas, que mudem
fraldas, que ponham a arrotar, que ensinem karaté...*
- Não é preciso. Porque na cabeça das crianças tudo está muito claro: aquela
que o filho ama acima de tudo é a mãe, que sempre respondeu às suas
necessidades desde que estava na sua barriga. Se alguém lhe diz 'não', mesmo
que seja a mãe, para ele a culpa é do pai. Ou quando muito, da não-mãe. No
inconsciente de uma criança, o pai não existe. Só há a mãe. O pai tem de se
construir, a bem das crianças e a bem da mãe delas.
*- Antes de ler este livro não tinha consciência de que as crianças estavam
tão perturbadas.*
- Li um artigo recentemente do director do centro médico-pedagógico de
Paris, que afirmava que em 2008 tinha recebido 394 novas famílias, e que a
maior parte tinham problemas psicológicos. No fim da primária, 40% dos
alunos ainda não dominam a língua, e isto é grave. E não porque tenham
problemas físicos ou sejam burros: é porque não os sabemos educar. Mas é uma
tarefa difícil, porque mesmo as instâncias governativas vão no sentido de
seduzir a criança. Porque as crianças vendem, são um produto que se compra e
se compara. Todo o mundo vai no sentido de deixar a criança fazer o que
quer, porque é mais fácil que ela não cresça. Mas o que vai acontecer é que
essas crianças, se não travadas, vão crescer e fabricar sociedades
absolutamente abomináveis, onde será cada um por si, onde não haverá
solidariedade.
*- Nem cientistas... É o senhor quem o diz...*
- (ri). Apesar de tudo, estou optimista. As pessoas querem saber como podem
mudar. Não sou o único a dizer estas coisas, mas digo-as de forma bruta.
Tenho 40 anos de experiência com pais e crianças. E é muito fácil mudar,
quando começamos a ver a lógica das coisas. Além disso, o que eu pretendo é
simplificar a vida das pessoas. Não quero voltar àquilo que se fazia há um
século. Não quero pais castradores.
*- O que é um pai castrador?*
- Não é um pai autoritário, é um pai fraco, intranquilo, desconfortável na
sua pele e na sua posição. O que eu digo é, a sua posição como pai ou mãe
está assegurada à partida. Só tem de exercê-la. Uma vez, apareceu-me uma mãe
muito alarmada porque a filha não dormia. Aconselhei-a a dizer à criança,
antes de dormir: 'Podes dormir tranquila. Não preciso mais de ti hoje.' E a
criança dormiu a noite toda. Por isso eu digo no fim das consultas, a todas
as crianças, tenham elas 1, 7 ou 14 anos, 'Muito obrigado por me teres
trazido os teus pais à consulta. Agora podes ficar descansado, eu ocupo-me
deles.'
*O QUE DEVEMOS FAZER...*
Palavra de ordem: não compliquem.
Segundo Aldo Naouri, o esterilizador de biberões não faz sentido, nem
desinfectar o mamilo.
- Os biberões devem lavar-se com água quente da torneira.
- As nádegas do bebé devem ser lavadas com água e sabão.
- A roupa do bebé pode ser enfiada na máquina como o resto da roupa de
casa.
- Em todas as idades, devem tomar-se as refeições familiares em
conjunto.
- Um adolescente pode ir vestido da maneira que bem entender.
- Petiscar, no caso de um adolescente, não é de condenar, porque
precisam de imensas calorias.
*E O QUE NÃO DEVEMOS...*
- Rituais antes de dormir, como a história ou a cantiga, é para irem à
vida. Só servem para ritualizar o medo da criança. Deve-se mandar a criança
para o quarto, e aí ela fará o que quiser com o seu tempo.
- Angustiar-nos com as horas de sono. É absolutamente necessário
livrarmo-nos da obsessão do número de horas que eles dormem.
- Nunca, em circunstância alguma, se deve obrigar uma criança a comer.
- Biberão, chupeta e objectos de transição devem desaparecer antes do
fim do segundo ano da criança.
- Bater nunca: nem na mão nem no rabo.
- Elogiar, só para coisas excepcionais.
- A criança não deve escolher a sua roupa.
- Uma ordem não tem de ser explicada, tem de ser executada. A
explicação que é dada ao mesmo tempo que a ordem apaga a hierarquia. Se
quiser explicar, só depois da ordem cumprida. A figura parental nunca, mas
nunca, tem de se justificar perante o filho.
*Para ler: 'Educar os Filhos', Aldo Naouri, Livros d'Hoje*
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